AS LÍNGUAS ORIGINAIS DA BÍBLIA - LARRY WALKER

AS LÍNGUAS ORIGINAIS DA BÍBLIA - Larry Walker

POR DANIEL SANTOS


"Porque tudo o que dantes foi escrito, para nosso ensino foi escrito, para que pela paciência e consolação das Escrituras tenhamos esperança." Romanos 15:4

Os cristãos crêem que Deus auto-revelou-se através da Bíblia. Por isso, aqueles que lêem a Palavra sempre saem ganhando quando aprendem o máximo possível sobre as três línguas nas quais a Bíblia foi escrita: o hebraico, o aramaico (de origem comum ao hebraico) e o grego.

A conexão entre a língua e o pensamento não é imprecisa.
A língua é produto e reflexão da alma humana. Ela não é apenas uma roupa para o pensamento vestir ou despir à vontade, mas é o "corpo" do qual o pensamento é a "alma".
Cada língua que Deus ordenou para transmitir a revelação divina tem uma "personalidade" que a torna adequada para tal propósito. As duas principais línguas das Escrituras, o grego e o hebraico, representam duas importantes famílias lingüísticas: a indo-européia e a semítica. Seus contrastantes traços característicos combinam-se para produzir a completa, progressiva e proposicional revelação de Deus, revelação essa caracterizada pela simplicidade, variedade e força.

Nenhuma tradução pode substituir as línguas originais da Bíblia no que tange à importância primária para a transmissão e perpetuação da revelação divina. Esses idiomas deveriam ser aprendidos não meramente no que diz respeito ào aspecto "externo" — com gramática e léxico —, mas também no que se relaciona ao aspecto "interno" a apropriada apreciação pela singularidade de cada um.

O Hebraico
A palavra "hebreu" não é encontrada no Antigo Testamento para designar o nome de sua própria língua, embora o Novo Testamento realmente use 0 nome nesse sentido. No Antigo Testamento, "hebreu" significa a pessoa ou povo que falava o idioma hebraico. A língua em si é chamada de "a língua de Canaã" (Is 19.18) ou "judaico" (Ne 13.24).

ORIGEM E HISTÓRIA
Na Idade Média, era opinião comum que o hebraico era a língua primitiva da humanidade. Mesmo na época da colonização da América, o hebraico ainda era referido como "a mãe de todas as línguas". Hoje, a erudição linguística tornou tal teoria insustentável.

O hebraico é, na realidade, um dos vários dialetos cananeus, que incluíam o fenício, o ugarítico e o moabita.
Existiam outros dialetos cananeus (por exemplo, o amonita), mas insuficientes inscrições restaram para a investigação dos estudiosos. Tais dialetos já estavam presentes na terra de Canaã antes que os israelitas a conquistassem.
Até cerca de 1974, os mais antigos testemunhos para a língua cananéia encontravam-se nos registros de Ugarite e Amarna, datando dos séculos XIV e XV a.C. Algumas poucas palavras e expressões cananéias apareceram em registros egípcios mais antigos, mas a origem da língua cananéia era incerta. Contudo, entre 1974 e 1976, quase 17 mil tabuinhas de argila foram descobertas em Tell Mardik (antiga Ebla), ao norte da Síria, escritas em um dialeto semítico até então desconhecido. Pela razão de remontarem a possivelmente 2400 a.C. (talvez até mesmo antes), muitos eruditos julgam que essa língua possa ser o "antigo cananeu", que deu origem ao hebraico. Por volta de 1977, quando outras mil tabuinhas foram desenterradas, somente cerca de cem inscrições de Ebla haviam sido estudadas. As línguas mudam ao longo de um extenso período de tempo. O inglês usado no tempo de Alfredo, 0 Grande (século IX d.C.), quase parece uma língua estrangeira para os que falam o inglês contemporâneo. Embora o hebraico não tenha sido exceção para esse princípio geral, permaneceu, assim como outras línguas semíticas, notavelmente estável durante muitos séculos. Poesias, como o Cântico de Débora (Jz 5), têm a tendência em preservar a forma mais antiga da língua. Mudanças ocorridas mais tarde, na longa história da língua, são evidenciadas pela presença de palavras arcaicas (freqüentemente preservadas na língua poética) e por uma diferença geral no estilo. Por exemplo, o livro de Jó retrata um estilo mais arcaico que o livro de Ester.
Aparentemente, vários dialetos hebraicos existiam lado a lado nos tempos do Antigo Testamento, como está espelhado no episódio envolvendo a pronunciação da palavra hebraica "chibolete/sibolete" (Jz 12.4-6). Parece que os israelitas que viviam ao oriente do rio Jordão pronunciavam a letra inicial com um forte som de "ch", ao passo que aqueles em Canaã proferiam o som simples de "s".
Os eruditos também identificaram outras características distintas do hebraico, que poderiam ser descritas como próprias das regiões Norte ou Sul do país.

GRUPO LINGÜÍSTICO
O hebraico pertence ao grupo semítico das línguas. As línguas desse grupo eram faladas do mar Mediterrâneo às montanhas a leste do vale do rio Eufrates, e da Armênia (Turquia), ao norte, à extremidade sul da península árabe.
As línguas semíticas são classificadas em meridional (árabe e etiópico), oriental (acadiano) e setentrional noroeste(aramaico, siríaco e cananeu [hebraico, fenício, ugarítico e moabita]).

CARACTERÍSTICAS
O hebraico, assim como as outras antigas línguas semíticas, concentra-se mais na observação do que na reflexão. Isto significa que as coisas são em geral observadas segundo sua aparência como fenômenos, e não analisadas no que respeita ao seu ser ou essência interior. Os efeitos são observados, mas não acompanhados através de uma série de causas.
A vivacidade, concisão e simplicidade da língua hebraica torna-a difícil de ser traduzida em sua inteireza. E surpreendentemente lacônica e direta. Por exemplo, o Salmo 23 contém 55 palavras em hebraico. A maioria das traduções requerem cerca de duas vezes mais. Apresentamos as duas primeiras linhas no original, com barras separando cada palavra hebraica:

O Senhor/[é] o meu pastor/
Nada/me faltará

Assim, verificamos que foram necessárias nove palavras em português para traduzir quatro palavras hebraicas.
O hebraico não usa expressões distintas e individuais para cada nuança de pensamento. Alguém já disse que "os semitas foram a pedreira, cujos blocos enormes e brutos os gregos talharam, poliram e ajustaram. Os primeiros nos deram a religião; os últimos, a filosofia".

O hebraico é uma língua pictórica, na qual o passado não é meramente descrito, mas verbalmente pintado. Não é apresentada apenas uma paisagem, mas um panorama em movimento. O curso dos acontecimentos é revivido novamente na visão da mente (note 0 uso freqüente do advérbio "eis", um hebraísmo levado para 0 Novo Testamento). Essas expressões hebraicas comuns, como "Ele se levantou e se foi", "Ele abriu a boca e disse", "Ele levantou os olhos e viu" e "Ele levantou a voz e chorou" ilustram a força pictórica da língua.
Muitas expressões teológicas significativas do Antigo Testamento estão fortemente vinculadas à língua e gramática hebraicas. Até mesmo 0 nome mais sagrado de Deus, o "SENHOR" (Jeová ou Javé), está diretamente relacionado com o verbo hebraico "ser" (ou talvez "ocasionar ser"). Vários outros nomes de pessoas e lugares no Antigo Testamento podem ser mais bem entendidos somente com um conhecimento prático do idioma hebraico.
Em breve trataremos da parte gramatical...

Que Deus nos abençoe!

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