O SANGUE DE JESUS

WATCHMAN NEE   


O que é a vida cristã normal? Fazemos bem em considerar
esta questão logo de início. O objetivo destes estudos é mostrar
que essa vida é algo muito diferente da vida do cristão comum. De
fato, a análise da Palavra de Deus escrita — do Sermão da
Montanha, por exemplo — deve levar-nos a perguntar se tal vida já
foi vivida sobre a terra, a não ser, unicamente, pelo próprio Filho de
Deus. Mas, nesta edição, encontramos imediatamente a resposta à
nossa pergunta.
O apóstolo Paulo nos dá a sua própria definição da vida cristã
em Gálatas 2.20. É "não mais eu, mas Cristo". E não declara aqui
alguma coisa especial ou singular — um alto nível de cristianismo.
Creio que aqui apresenta o plano normal de Deus, para o cristão,
que pode ser resumido nas seguintes palavras: Vivo não mais eu,
mas Cristo vive a Sua vida em mim.
Deus nos revela claramente, na Sua Palavra, que somente há
uma resposta para cada necessidade humana — Seu Filho, Jesus
Cristo. Em toda a Sua ação a nosso respeito, Deus usa o critério
de nos tirar do caminho, pondo Cristo, o Substituto, em nosso
lugar. O Filho de Deus morreu em nosso lugar, para obter o nosso
perdão; Ele vive em vez de nós, para alcançar o nosso livramento.
Podemos falar, pois, de duas substituições — uma Substituição na
Cruz, que assegura o nosso perdão, e uma Substituição interior
que assegura a nossa vitória.. Ajudar-nos-á grandemente, e evitará
muita confusão, conservar constantemente perante nós este fato:
Deus responderá a todos os nossos problemas de uma só forma:
mostrando-nos mais do Seu Filho.
Nosso problema duplo: os pecados e o pecado
Tomaremos agora, como ponto de partida para o nosso
estudo da vida cristã normal, aquela grande exposição da mesma
que encontramos nos primeiros oito capítulos da Epístola aos
Romanos e encararemos o assunto de um ponto de vista


experimental e prático. Será de grande auxílio notar, em primeiro
lugar, uma divisão natural desta seção de Romanos em duas, e
notar certas diferenças evidentes no conteúdo das duas partes.
Os primeiros oito capítulos de Romanos constituem em si
mesmos, uma unidade completa. Os quatro capítulos e meio, de
1.1 a 5.11, formam a primeira metade desta unidade, e os três
capítulos e meio, de 5.12 a 8.39, a segunda metade. Uma leitura
cuidadosa revelar-nos-á que o conteúdo das duas metades não é o
mesmo. Por exemplo, no argumento da primeira seção
encontramos em proeminência a palavra plural "pecados". Na
segunda seção, contudo, esta ênfase é modificada, porque,
enquanto a palavra "pecados" ocorre apenas uma vez, a palavra
singular "pecado" é usada repetida vezes, e constitui o assunto
básico e principal das considerações. Por que assim?
Porque, na primeira seção, considera-se a questão dos
pecados que eu tenho cometido diante de Deus, que são muitos e
que podem ser enumerados, enquanto que, na segunda, trata-se
do pecado como princípio que opera em mim. Sejam quais forem
os pecados que eu cometo, é sempre o princípio do pecado que me
leva a cometê-los. Preciso de perdão para os meus pecados, mas
preciso também de ser libertado do poder do pecado. Os primeiros
tocam a minha consciência, o último a minha vida. Posso receber
perdão para todos os meus pecados, mas, por causa do meu
pecado, não tenho, mesmo assim, paz interior permanente.
Quando a luz de Deus brilha, pela primeira vez, no meu
coração, clamo por perdão, porque compreendo que cometi
pecados diante dEle; mas, após ter recebido o perdão dos pecados,
faço uma nova descoberta, ou seja, a descoberta do pecado, e
compreendo que não só cometi pecados diante de Deus, mas
também que existe algo de errado dentro de mim. Descubro que
tenho a natureza do pecador. Existe dentro de mim uma inclinação
para pecar, um poder interior que leva ao pecado. Quando aquele
poder anda solto, eu cometo pecados. Posso procurar e receber o
perdão, depois, porém, peco outra vez. E, assim, a vida continua
num círculo vicioso de pecar e ser perdoado e depois pecar outra
vez. Aprecio o fato bendito do perdão de Deus, mas eu desejo algo
mais do que isso: preciso de livramento. Preciso de perdão para o
que tenho feito, mas preciso também de ser libertado daquilo que
sou.




[28/7, 22:56] LucimarSila: O duplo remédio de Deus: o Sangue e a Cruz
Assim, nos primeiros oito capítulos de Romanos, apresentam￾se dois aspectos da salvação: em primeiro lugar, o perdão dos
nossos pecados e, em segundo lugar, a nossa libertação do pecado.
Agora, ao considerar este fato, devemos notar outra distinção.
Na primeira parte de Romanos, 1 a 8, encontramos duas
referências ao Sangue do Senhor Jesus, em 3.25 e 5.9. Na
segunda, é introduzida uma nova idéia, em 6.6, onde lemos que
fomos "crucificados" com Cristo. O argumento da primeira parte
centraliza-se em torno daquele aspecto da obra do Senhor Jesus,
que é representado pelo "Sangue" derramado para nossa
justificação, pela "remissão dos pecados". Esta terminologia não é,
contudo, levada para a segunda seção, cujo argumento gira em
tomo do aspecto da Sua obra representado pela "Cruz", o que quer
dizer, pela nossa união com Cristo na Sua morte, sepultamento e
ressurreição. Esta distinção tem muito valor. Veremos que o
Sangue soluciona o problema daquilo que nós fizemos, enquanto a
Cruz soluciona o problema daquilo que nós somos. O Sangue
purifica os nossos pecados, enquanto que a Cruz atinge a raiz da
nossa capacidade de pecar. O último aspecto será alvo das nossas
considerações nos capítulos que se seguem.
O problema dos nossos pecados
Comecemos, pois, com o precioso Sangue do Senhor.
O Sangue do Senhor Jesus Cristo é de grande valor para nós,
porque trata dos nossos pecados e nos justifica a vista de Deus,
conforme se declara nas seguintes passagens:
"Todos pecaram” (Romanos 3.23).
"Mas Deus prova o seu próprio amor para conosco, pelo
fato de ter Cristo morrido por nós, sendo nós ainda
pecadores. Logo, muito mais agora, sendo justificados
pelo seu sangue, seremos por ele salvos da ira" (Rm 5.
8-9).
[28/7, 22:57] LucimarSila: Sendo justificados gratuitamente, por sua graça, me￾diante a redenção que há em Cristo Jesus; a quem Deus
propôs, no seu sangue, como propiciação, mediante a fé,
para manifestar a sua justiça, por ter Deus, na sua tole￾rância, deixado impunes os pecados anteriormente
cometidos; tendo em vista a manifestação da sua justiça
no tempo presente, para ele mesmo ser justo e o
justificador daquele que tem fé em Jesus." (Rm 3.24-26).
Teremos ocasião, num estágio mais adiantado do nosso
estudo, de olhar mais particularmente para a natureza real da
Queda e para o processo da recuperação. Nesta altura, queremos
apenas lembrar de que o pecado, quando entrou, expressou-se em
forma de desobediência a Deus (Rm 5.19). Ora, devemos
considerar que, quando isto acontece, o que imediatamente se lhe
segue é o sentimento de culpa.
O pecado entra na forma de desobediência, para criar, em
primeiro lugar, separação entre Deus e o homem, do que resulta
ser este afastado de Deus. Deus já não pode ter comunhão com
ele, por agora existir algo que a impede, e que, através de toda a
Escritura, é conhecido como "pecado". Desta forma, é Deus que,
primeiramente, diz: "Todos... estão debaixo do pecado" (Rm 3.9).
Em segundo lugar, o pecado, que daí em diante constitui barreira
à comunhão do homem com Deus, comunica-lhe um sentimento
de culpa — de afastamento e separação de Deus. Agora, é o
próprio homem que, mediante a sua consciência despertada, diz:
"Pequei" (Lc 15.18). E ainda não é tudo, porque o pecado oferece
também a Satanás uma possibilidade de acusação diante de Deus,
enquanto o nosso sentimento de culpa lhe dá ocasião para nos
acusar nos nossos corações; assim, pois, em terceiro lugar, é o
"acusador dos irmãos" (Ap 12.10), que agora diz: "Tu pecaste".
Portanto, para nos remir, e nos fazer regressar ao propósito
de Deus, o Senhor Jesus teve que agir em relação a estas três
questões: do pecado, da culpa, e da acusação de Satanás contra
nós. Primeiramente, teve que ser resolvida a questão dos nossos
pecados, e isso foi feito pelo precioso Sangue de Cristo. Depois,
tem que ser resolvido o assunto da nossa culpa e é somente
quando se nos; mostra o valor daquele Sangue que a nossa
consciência culpada encontra descanso. E, finalmente, o ataque do
inimigo tem que ser encarado e as suas acusações respondidas. A
[28/7, 22:58] LucimarSila: Escrituras mostram como o Sangue de Cristo opera eficazmente
nestes três aspectos, em relação a Deus, em relação ao homem, e
em relação a Satanás.
Temos, portanto, necessidade de nos apropriarmos destes
valores do Sangue, se quisermos de fato prosseguir. É
absolutamente essencial. Devemos ter conhecimento básico do fato
da morte do Senhor Jesus, como nosso Substituto, sobre a Cruz, e
uma clara compreensão da eficácia do Seu sangue, em relação aos
nossos pecados, porque, sem isto, não poderemos dizer que inicia￾mos a marcha. Olharemos então estes três aspectos mais de perto.
O Sangue é primariamente para Deus
O Sangue é para expiação e, em primeiro lugar, relaciona-se
com a nossa posição diante de Deus. Precisamos de perdão dos
nossos pecados cometidos para que não caiamos sob julgamento; e
eles nos são perdoados, não porque Deus não os leva a sério, mas
porque Ele vê o Sangue. O Sangue é, pois, primariamente, não
para nós, mas para Deus. Se eu quero entender o valor do Sangue,
devo aceitar a avaliação que Deus dele faz e, se eu não conhecer o
valor que Deus dá ao Sangue, nunca saberei qual é o seu valor
para mim. É só na medida em que me é dado conhecer, pelo Seu
Espírito Santo, a estimativa que Deus faz do Sangue, que eu
próprio aprendo o seu valor, e vejo quão precioso o Sangue
realmente é para mim. Todavia, o seu primeiro aspecto é para
Deus. Através do Velho e do Novo Testamento, a palavra "sangue" é
usada em conexão com a idéia da expiação, segundo creio, mais de
cem vezes, e sempre, e em toda a Escritura algo que diz respeito a
Deus.
No calendário do Velho Testamento há um dia que tem
grande significação quanto aos nossos pecados, o Dia da Expiação.
Nada explica esta questão dos pecados tão claramente como a
descrição daquele dia. Em Levítico 16 lemos que, no Dia da
Expiação, o Sangue era tomado da oferta pelo pecado e trazido ao
Lugar Santíssimo e ali espargiu sete vezes diante do Senhor.
Devemos compreender isto muito bem. Naquele dia, a oferta pelo
pecado era oferecida publicamente no pátio do Tabernáculo. Tudo
estava ali à vista de todos, e por todos podia ser observado. Mas o
Senhor ordenou que nenhum homem entrasse no Tabernáculo, a
não ser o sumo sacerdote. Era somente ele que tomava o sangue,
[28/7, 23:00] LucimarSila: e, entrando no Lugar Santíssimo, o espargia ali para fazer a
expiação perante o Senhor. Por quê? Porque o sumo sacerdote era
um tipo do Senhor Jesus na Sua obra redentora (Hebreus 9.11-
12), e, assim, em figura, era o único que fazia este trabalho.
Ninguém, exceto ele, podia mesmo aproximar-se da entrada. Além
disso, havia relacionado com a sua entrada ali, um único ato: a
apresentação do sangue a Deus como algo que Ele aceitara algo
em que Ele Se satisfaria. Era uma transação entre o sumo
sacerdote e Deus, no Santuário, fora da vista dos homens que se
beneficiaram dela. O Senhor exigia-o. O Sangue é, pois, em
primeiro lugar, para Ele.
Mas, anteriormente, encontramos descrito em Êxodo 12.13, o
derramamento do sangue do cordeiro pascal, no Egito, para
redenção de Israel. Este é, creio um dos melhores tipos, no Velho
Testamento, da nossa redenção. O sangue foi posto na verga e nas
ombreiras das portas, enquanto que a carne do cordeiro era
comida no interior da casa; e Deus disse: "Vendo Eu sangue
passarei por cima de vós". Eis outra ilustração de o sangue não se
destinar a ser apresentado ao homem, e, sim, a Deus, pois que o
sangue era posto nas vergas e nas ombreiras das portas, de modo
que os que se encontravam em festa dentro das casas não
pudessem vê-lo.
Deus está satisfeito
É a santidade de Deus, a justiça de Deus, que exige que uma
vida sem pecado seja dada em favor do homem. Há vida no
Sangue, e aquele Sangue tem que ser derramado em favor de mim,
pelos meus pecados. Deus requer que o Sangue seja apresentado
com o fim de satisfazer a Sua própria justiça, e é Ele que diz:
"Vendo eu sangue passarei por cima de vós". O Sangue de Cristo
satisfaz Deus inteiramente.
Desejo agora dizer uma palavra a respeito disto aos meus
irmãos mais novos no Senhor, porque é neste caso que muitas
vezes caímos em dificuldade. Em nossa condição de descrentes,
podemos não ter sido absolutamente molestados pela nossa
consciência, até que a Palavra de Deus começou a nos despertar. A
nossa consciência estava morta, e aqueles que têm consciência
morta certamente não têm qualquer préstimo para Deus. Mas,
mais tarde, quando nós cremos, a nossa consciência pode se tomar
[28/7, 23:01] LucimarSila: extremamente sensível, e isto pode vir a ser real problema para
nós. O sentimento de pecado e de culpa pode se tornar tão grande,
tão terrível, que quase nos paralisa porque nos faz perder de vista
a verdadeira eficácia do Sangue. Parece-nos que os nossos pecados
são tão reais, e algumas vezes algum pecado em particular pode
atribular-nos tantas vezes, que chegamos ao ponto de imaginá-los
maiores do que o Sangue de Cristo.
Ora, nosso mal reside em estarmos procurando sentir o seu
valor e estimar, subjetivamente, o que o Sangue é para nós. Não
podemos fazê-lo. O Sangue não opera desta forma. Destina-se,
primeiramente, a ser visto por Deus. Então, temos que aceitar a
avaliação que Deus faz dele. Ao fazê-lo, acharemos a nossa própria
estimativa. Se, ao invés disto, procuramos avaliá-lo, por meio do
que sentimos, não alcançaremos nada, e permanecemos em trevas.
Pelo contrário, é. questão de fé na Palavra de Deus. Temos que crer
que o Sangue é precioso para Deus porque Ele assim o diz (I Pe
1.18-19). Se Deus pode aceitar o Sangue, como pagamento pelos
nossos pecados e como preço da nossa redenção, então podemos
ter certeza de que o débito foi pago. Se Deus está satisfeito com o
Sangue, logo, deve ser aceitável o Sangue. A nossa estimativa dele
é somente de acordo com a Sua avaliação — nem mais nem.
menos. Não pode, evidentemente, ser mais, mas não deve ser
menos. Lembremo-nos de que Ele é santo e justo, e que o Deus
santo e justo tem o direito de dizer que o Sangue é aceitável aos
Seus olhos, e que O satisfez inteiramente.
O acesso do crente ao sangue
O Sangue satisfaz a Deus, e deve nos satisfazer da mesma
forma. Tem, portanto, um segundo valor, em relação ao homem, na
purificação da sua consciência. Quando examinamos a Epístola
aos Hebreus, vemos que o Sangue faz isto. Devemos ter "os
corações purificados da má consciência" (Hebreus 10.22).
Isto é da máxima importância. Note cuidadosamente o que
diz a Escritura. O escritor não se limita a dizer que o Sangue do
Senhor Jesus purifica os nossos corações, sem nada mais
declarar. Erramos se relacionarmos inteiramente, desta forma, o
coração com o Sangue. Revelaremos má compreensão da esfera em
que o Sangue opera se orarmos: "Senhor, purifica o meu coração
do pecado, pelo Teu Sangue". O coração, diz Deus, é "enganoso,
[28/7, 23:02] LucimarSila: mais do que todas as coisas e perverso" (Jeremias 17. 9) e Ele tem
que fazer algo mais fundamental do que purificá-lo: tem que nos
dar um coração novo.
Não lavamos nem passamos a ferro roupas que vamos jogar
fora. Como logo veremos, a "carne" é demasiadamente má para ser
purificada; tem que ser crucificada. A obra de Deus em nós tem
que ser algo inteiramente novo. "Dar-vos-ei coração novo, e porei
dentro em vós espírito novo" (Ezequiel 36.26).
Não encontramos a declaração de que o Sangue purifica os
nossos corações. O seu trabalho não é subjetivo assim, mas
inteiramente objetivo diante de Deus. É verdade que o trabalho
purificador do Sangue aparece aqui, em Hebreus 10, com relação
ao coração, mas é, na realidade, com relação à consciência. "Tendo
o coração purificado da má consciência".
Qual então o significado disto?
Significa que havia algo se interpondo entre mim e Deus, e
que, como resultado disto, eu tinha má consciência sempre que
procurava aproximar-me dEle, que constantemente me lembrava
da barreira que permanecia entre mim e Ele. Mas, agora, pela
operação do precioso Sangue, algo foi realizado diante de Deus que
removeu aquela barreira. Deus revelou-me este fato através da Sua
Palavra. Quando creio nisto e o aceito, a minha consciência fica
imediatamente limpa, o meu sentimento de culpa é removido, e já
não tenho má consciência diante de Deus.
Cada um de nós sabe quão precioso é ter consciência sem
ofensa nas nossas relações com Deus. Um coração de fé, e uma
consciência limpa de toda e qualquer acusação, ambos são
igualmente essenciais para nós, desde que sejam
interdependentes. Logo que verificamos que a nossa consciência
está sem descanso, a nossa fé desvanece e imediatamente
achamos que não podemos encarar Deus. Portanto, a fim de
prosseguirmos com Deus, temos que conhecer o valor real atual do
Sangue. O Sangue nunca perderá a sua eficácia como fundamento
do nosso acesso a Deus, se realmente dele dependermos. Quando
entrarmos no Lugar Santíssimo, em que base, que não seja o
Sangue, nos atreveremos a fazê-lo?
Quero, porém, perguntar a mim mesmo: esta realmente
[28/7, 23:03] LucimarSila: procurando o caminho para a presença de Deus através do
Sangue, ou por algum outro meio? O que quero dizer quando
afirmo "pelo Sangue?” Quero dizer apenas que reconheço os meus
pecados, que confesso que necessito da purificação e da expiação e
que venho a Deus confiante na obra consumada do Senhor Jesus.
Aproximo-me de Deus exclusivamente através dos Seus
merecimentos, e jamais na base do meu comportamento; nunca,
por exemplo, na base de ter sido hoje especialmente amável, ou
paciente, ou de ter feito hoje algo especial para o Senhor. É só
aproximar dEle. A tentação de muitos de nós, quando procuramos
nos aproximar de Deus, é pensar que, porque Deus já operou em
nós - porque já atuou para nos trazer mais perto de Si, e porque
nos ensinou lições mais profundas da Cruz - então, já nos deu
novos padrões tais que, sem alcançar os mesmos, não haverá mais
consciência tranqüila diante dEle. Nunca, porém, se deve basear a
consciência tranqüila naquilo que conseguimos ou alcançamos;
somente se deve basear a consciência tranqüila naquilo que
conseguimos ou alcançamos; somente se pode basear na obra do
Senhor Jesus, no derramamento do Seu Sangue.
Talvez esteja errado; sinto, porém, com muita convicção, que
há entre nós quem pense desta maneira: "Hoje fui um pouco mais
cuidadoso; hoje procedi um pouco melhor; esta manhã, li a Palavra
de Deus com mais fervor, de modo que hoje posso orar melhor".
Ou, então: "Hoje tive algumas pequenas dificuldades com a família;
comecei o dia sentindo-me muito melancólico e deprimido; não me
sinto muito animado agora; parece que algo não está bem; não
posso, portanto, me aproximar de Deus".
Afinal de contas, qual é a base em que você se aproxima de
Deus? Aproxima-se dEle na base incerta dos seus sentimentos, o
sentimento de que hoje se realizou algo para Deus? Ou baseia-se a
sua aproximação de Deus em algo muito mais seguro, ou seja, no
Sangue derrama do no fato de que Deus olha para aquele Sangue e
Se dá por satisfeito? É lógico que se pudesse conceber que o
Sangue sofresse qualquer modificação, a base da sua aproximação
de Deus seria menos digna de confiança. O Sangue, porém, nunca
mudou nem mudará jamais. A sua aproximação de Deus é,
portanto, sempre com ousadia; e essa ousadia lhe pertence pelo
Sangue, e nunca pelas suas aquisições pessoais. Qualquer que
seja a medida do que se conseguiu alcançar hoje, ontem e no dia
anterior, logo que se faça um movimento consciente para o Lugar
[28/7, 23:03] LucimarSila: Santíssimo, deve-se permanecer no único funda mento seguro — o
Sangue derramado. Quer tenha tico um dia bom ou mal, quer
tenha pecado conscientemente ou não, a base da sua aproximação
é sempre a mesma – o sangue de Cristo. Esse é o fundamento
sobre o qual se pode entrar, e não há outro.
Vê-se que, como em muitas outras fases da nossa experiência
cristã, nosso acesso a Deus tem dois aspectos: um inicial e outro
progressivo. O primeiro se nos apresenta em Efésios dois, e o
ultimo em Hebreus 10. Inicialmente, a nossa posição perante Deus
foi garantida pelo Sangue, porque fomos "aproximados pelo Sangue
de Cristo" (Efésios 2.13). Mas, daí em diante, a base do nosso
contínuo acesso ainda é o Sangue, porque o Apóstolo nos exorta:
"Tendo, pois, intrepidez para entrar no Santo dos Santos, pelo
sangue de Jesus... aproximemo-nos..." (Hb 10.19-22). De inicio
chegamos perto pelo Sangue, e, para continuar nesta nova relação,
eu venho a Deus a todo momento pelo Sangue. Não se trata,
portanto, de haver uma base para a minha salvação, e outra para
manter minha comunhão. Alguém dirá: "Isso é muito simples; é o
ABC do Evangelho". Sim, mas a tragédia, com muitos de nós, é que
nos desviamos do ABC. Chegamos a pensar que fazemos tais
progressos que podemos dispensar o Sangue, jamais, porém,
poderíamos fazê-lo. Não, a minha aproximação de Deus é pelo
Sangue, e é desta mesma forma que, a todo momento, eu venho
perante Ele. E assim será até o fim; sempre e unicamente pelo
Sangue.
Isto não significa, de forma alguma, que devemos viver de
modo descuidado — estudaremos daqui a pouco outro aspecto da
morte de Cristo em que se considera este assunto. O que importa
aqui é nos contentarmos com o Sangue, que é real e suficiente.
Podemos ser fracos, no entanto o olhar para as nossas
fraquezas nunca nos tornará fortes. Procurar sentir nossa
maldade, e nos arrepender por isso, não nos auxiliará a sermos
mais santos. Não há auxílio nisso sem haver da nossa parte
confiança em nos aproximarmos de Deus mediante o Sangue,
dizendo: "Senhor, não entendo totalmente qual seja o valor do
Sangue, mas sei que a Ti satisfez, e que deve me bastar como
motivo único do meu apelo a Ti. Percebo agora que não se trata de
eu ter progredido e alcançado algo. Só venho perante Ti na base do
precioso Sangue". Então fica realmente limpa a nossa consciência
diante de Deus. Nenhuma consciência poderia jamais fica
[28/7, 23:04] LucimarSila: tranqüila, independentemente do Sangue. É o Sangue que nos dá
intrepidez.
"Não mais teriam consciência"de pecados": estas pa￾lavras de Hebreus 10.2 têm significado transcendente.
Somos purificados de todo o pecado e podemos realmen￾te fazer nossas as palavras de Paulo: "Bem-aventurado o
homem a quem o Senhor jamais imputará pecado" (Ro￾manos 4.8).
Vencendo o Acusador
Em face do que temos dito, podemos agora voltar-nos para
encarar o Inimigo, porque há um novo aspecto do Sangue, que diz
respeito a Satanás. Atualmente, é o de acusador dos irmãos
(Apocalipse 12.10), e nosso Senhor o enfrenta como tal no Seu
ministério especial de Sumo Sacerdote, "pelo seu próprio sangue"
(Hebreus 9.12). Como é, então, que o Sangue opera contra
Satanás? Por este meio: colocando Deus ao lado do homem. A
Queda introduziu algo no homem que deu a Satanás livre acesso a
ele, de forma que Deus foi compelido a Se retirar. Agora, o homem
está fora do Jardim — destituído da glória de Deus (Romanos 3.23)
— porque interiormente está separado de Deus. Por causa do que o
homem fez, existe nele algo que, até que seja removido, impede
Deus moralmente de o defender. Mas o Sangue remove aquela j
barreira e restitui o homem a Deus e Deus ao homem. O homem
agora está certo com Deus, e com Deus ao seu lado pode encarar
Satanás sem temor.
Lembre-se do seguinte versículo: "O sangue de Jesus, seu
Filho, nos purifica de todo pecado" (I João 1.7). Não é "todo pecado,
no seu sentido geral, é cada pecado, um por um. O que significa
isto? É algo maravilhoso! Deus está na luz, e na medida em que
andamos na luz com Ele, tudo fica exposto e patente a ela, de
modo que Deus pode ver tudo — e mesmo nestas condições o
Sangue pode nos purificar de todo o pecado. Que purificação! Não
se trata de eu não ter profundo conhecimento de mim mesmo, ou
de Deus não me conhecer perfeitamente. Não significa que eu
procuro esconder alguma coisa, ou que Deus não faz caso disso.
Não, significa que Ele está na Luz, e que eu também estou na Luz,
[28/7, 23:06] LucimarSila: e que mesmo ali o Sangue precioso me purifica de todo o pecado. O
Sangue pode fazê-lo plenamente.
Alguns de nós às vezes somos tão oprimidos pela própria
fraqueza que somos tentados a pensar que há pecados quase
imperdoáveis. Recordemos de novo a palavra: "O sangue de Jesus,
seu Filho nos purifica de todo pecado". Pecados grandes, pecados
pequenos, pecados que podem ser muito negros e outros que não
parecem tão negros assim, pecados que penso possam ser
perdoados, e pecados que parecem imperdoáveis, sim, todos os
pecados, conscientes ou inconscientes, recordados ou esquecidos,
se incluem naquelas palavras: "Todo pecado". "O Sangue de Jesus
Cristo, Seu Filho, nos purifica de todo pecado", e isto porque o
Sangue satisfaz inteiramente a Deus.
Desde que Deus, que vê todos os nossos pecados na luz, pode
nos perdoar por causa do Sangue, em que base pode Satanás nos
acusar? Talvez Satanás nos acuse perante Deus, no entanto: "Se
Deus é por nós, quem será contra nós? " (Romanos 8.31). Deus lhe
mostra o Sangue do Seu querido Filho. É a resposta suficiente
contra a qual Satanás não tem apelação. "Quem intentará
acusação contra os eleitos de Deus? É Deus que os justifica. Quem
os condenará? É Cristo Jesus quem morreu, ou antes, quem
ressuscitou, o qual está à direita de Deus, e também intercede por
nós' (Romanos 8.33-34).
Mais uma vez, portanto, vê-se que precisamos reconhecer a
absoluta suficiência do Sangue precioso. "Quando, porém, veio
Cristo como sumo sacerdote... pelo seu próprio sangue, entrou no
Santo dos Santos, uma vez por todas, tendo obtido eterna
redenção" (Hebreus 9.11-12). Foi Redentor uma só vez, e já há
quase dois mil anos que está sendo Sumo Sacerdote e Advogado.
Ali permanece, na presença de Deus, como "propiciação pelos
nossos pecados" (I João ?). Notem-se as palavras de Hebreus 9.24:
"Muito mais o Sangue de Cristo...". Evidencia a suficiência do Seu
ministério. É suficiente para Deus.
Qual é a nossa atitude para com Satanás?
Isto é importante, porque ele não somente nos acusa perante
Deus, mas também na nossa própria consciência. "Você pecou, e
continua pecando. Você é fraco, e não há mais nada que Deus
[28/7, 23:07] LucimarSila: possa fazer por você". É este o seu aumento. E a nossa tentação é
olhar para dentro, procurando, para nos defender, algo em nós
mesmos, em nosso sentimento ou comportamento que nos dê
algum motivo para crer estar errado Satanás. Outras vezes, a
tendência é admitirmos a nossa grande fraqueza e, caindo no outro
extremo, nos entregamos à depressão e ao desespero. Assim sendo,
a acusação é uma das maiores e mais eficazes armas de Satanás.
Aponta para os nossos pecados e procura acusar-nos perante
Deus; se aceitarmos as suas acusações, afundar-nos-emos
imediatamente.
Ora, a razão por que aceitamos tão rapidamente as suas
acusações é que ainda esperamos ter alguma justiça própria. É
falsa a base da nossa esperança. Satanás conseguiu fazer-nos
olhar na direção errada, atingindo assim o seu objetivo de nos
deixar incapacitados. Se, porém, tivéssemos aprendido a não
confiarmos na carne, não nos espantaríamos quando surgisse o
pecado, posto que pecar é a natureza intrínseca da carne. É por
falta de reconhecermos qual seja nossa verdadeira natureza com
sua debilidade que nós ainda confiamos em nós mesmos, de modo
que tropeçamos sob as acusações de Satanás quando ele as
levanta contra nós.
Deus tem poder para solucionar o problema dos nossos
pecados; nada, porém, pode fazer por um homem que se submete
à acusação, porque tal homem já não está confiando no Sangue. O
Sangue fala em seu favor, prefere, porém, escutar Satanás. Cristo
é o nosso Advogado, mas nós, os acusados, nos colocamos do lado
do acusador. Ainda não reconhecemos que nada merecemos,
senão a morte; que, como logo passaremos a ver, só merecemos ser
crucificados! Não temos reconhecido que é somente Deus que pode
responder ao acusador e que já o fez por meio do Sangue precioso.
Nossa salvação está em olharmos firmemente para o Senhor
Jesus, reconhecendo que o Sangue do Cordeiro já solucionou toda
a situação criada pelos nossos pecados.
É este o fundamento seguro em que nos firmamos. Nunca
devemos procurar responder a Satanás, tendo por base a nossa
boa conduta, e sim, sempre com o Sangue. Sim, estamos repletos
de pecado mas, graças a Deus que o Sangue nos purifica de todo
pecado! Deus contempla o Sangue, por meio do qual o Seu Filho
enfrenta a acusação, e Satanás perde toda a sua possibilidade de
[28/7, 23:08] LucimarSila: atacar. Semente a nossa fé no Sangue precioso, e a nossa recusa
de sairmos daquela posição, podem silenciar as suas acusações e
afugentá-lo (Romanos 8.33-34); e assim será sempre até ao fim
(Apocalipse 12.11). Que emancipação seria a nossa, se víssemos
mais do valor, aos olhos de Deus, do precioso Sangue do Seu
querido Filho!

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